O porto de Aveiro disporá em breve de uma verdadeira “auto-estrada” ferroviária de ligação ao interior de Espanha.
A Linha da Beira Alta modernizada, o novo terminal intermodal no porto de Aveiro, a renovado plataforma de Cacia e o novo terminal ferroviário da plataforma logística de Salamanca auguram um futuro promissor para o transporte ferroviário de mercadorias entre o porto de Aveiro (e o da Figueira da Foz) e o interior da Península Ibérica, constataram os participantes no seminário sobre, precisamente, o “Crescimento Ferroviário no Corredor Atlântico Ibérico”, ontem realizado em Ílhavo, no âmbito do projecto Cencyl.
Na próxima terça-feira arrancarão, finalmente, as obras de construção do porto seco da plataforma logística de Salamanca, anunciou Pablo Hoya, director-geral da Zaldesa, a gestora do complexo.
O novo terminal, que ocupará uma área de cerca de 88 mil metros quadrados, estará preparado para receber composições eléctricas com 750 metros de comprimento e disporá de vias dedicadas à carga/descarga de contentores, de carga geral e de granéis, sublinhou Pablo Hoya, apontando ao porto de Aveiro.
O responsável da Zaldesa chamou também a atenção para o potencial de crescimento que existe, caso o terminal e os seus parceiros portugueses, consigam atrair cargas de/para a zona oeste da grande região de Madrid.
Em Aveiro, a administração portuária continua a trabalhar na implementação do projecto do terminal intermodal, que já tem garantido o co-financiamento do CEF. Marta Alves, responsável pelo Gabinete de Estratégia da APA e da APFF, destacou que o novo terminal, a localizar paredes meias com a zona de actividades logísticas, próximo do terminal de contentores, potenciará não apenas os tráfegos ferro-marítimos mas também os rodo-ferroviários.
A ligação entre os portos e Salamanca será, claro, assegurada pela Linha da Beira Alta, que continua fechada para obras. Mário Fernandes, director de Planeamento Estratégico da Infraestruturas de Portugal, reafirmou que a circulação será retomada no final do ano, mas admitiu que alguns trabalhos e certificações passarão para 2024.
O responsável da IP insistiu no aumento de capacidade de transporte de mercadorias que resultará da modernização em curso da Linha da Beira Alta e nas poupanças que daí decorrerão, mesmo se os operadores ferroviários presentes na sala fazem contas mais conservadoras e mantêm cautelas quanto à forma como será feita a retoma das operações do lado de cá da fronteira, porque do lado de lá continua a faltar a electrificação e é impossível fazer comboios de 750 metros.
Mário Fernandes deixou ainda a nota de que a IP está apostada em reavivar a plataforma de Cacia, que classificou de “elefante branco” e garantiu que já há contactos com entidades credíveis interessadas na utilização daquela infra-estrutura.
Eventuais investimentos na intermodalidade de base ferroviária deverão ser candidatos ao co-financiamento europeu, no âmbito do CEF, nas duas chamadas previstas para este ano, aconselhou Daniela Carvalho, consultora para o Corredor Atlântico. Isto porque, lembrou, nestas ainda se aplicarão os critérios da RTE-T que estão em processo de renovação.
A colaboradora do Coordenador do Corredor Atlântico, Carlo Secchi, deu conta das principais alterações aos critérios da RTE-T e sublinhou as críticas recentes do Tribunal de Contas Europeu às metas e às políticas da UE e dos estados-membros de promoção da transferência modal das cargas e da intermodalidade.
Agora que a rede ferroviária nacional estará prestes a entrar no século XX, com a conclusão do Ferrovia 2020, importará criar as condições para a captação de cargas para o comboio. Para tal, insistiu António Nabo Martins, presidente executivo da APAT, será necessária uma rede de terminais / plataformas / portos secos para a transferência das cargas entre modos (e os espanhóis estão a fazê-las junto à fronteira, a olhar para os portos portugueses, disse). Do lado dos operadores ferroviários, há apetência para investir, garantiu Miguel Rebelo de Sousa, presidente da APEF. Assim sejam ultrapassados constrangimentos técnicos. Da parte dos transportadores rodoviários de mercadorias, a posição é de expectativa para constatar (e aproveitar, se for o caso) as reais vantagens da ferrovia, e de tranqulidade quanto ao continuado crescimento da actividade, rematou Francisco Fonseca, vice-presidente da ANTRAM.
No seminário, Eduardo Feio, presidente da APA e da APFF, fez as honras da casa, destacando-se também as participações, na abertura, do alcalde do Ayuntamiento de Salamanca, e, no encerramento, da presidente da CCDR Centro.